Por Marcelo Buch
Planejamento estratégico é o que separa gestores reativos de líderes estratégicos
Improvisar ainda é confundido com agilidade em muitas empresas. Na prática, porém, a falta de planejamento estratégico funciona como um custo oculto que se acumula silenciosamente até virar crise. Ele não aparece no relatório financeiro do mês, mas surge na forma de retrabalho, urgências constantes, decisões mal fundamentadas e desgaste progressivo do time.
Em operações onde o não-planejado domina a rotina, até metade do tempo das equipes acaba sendo consumida por correções e tarefas que não geram avanço real. O esforço deixa de ser construtivo e passa a ser defensivo. Trabalha-se muito, mas anda-se pouco. Quando a comunicação acontece em modo de corrida, e não de alinhamento, o risco cresce de forma exponencial. Estimativas do PMI indicam que uma parcela significativa das perdas em projetos está ligada justamente à comunicação ineficaz — um sintoma clássico de ambientes onde ninguém tem tempo para planejar.
A diferença prática entre reagir e liderar estrategicamente
No dia a dia, o gestor reativo vive sob impacto. Ele decide pressionado pelo barulho do momento, muda prioridades sem critério e confunde urgência com importância. A empresa passa a valorizar quem resolve o problema em cima da hora, criando uma cultura em que o incêndio vira regra e não exceção.
O líder estratégico opera de outra forma. Ele não decide mais rápido; decide melhor. Trabalha com poucas prioridades claras, cria cadência, mede antes de opinar e não recompensa o heroísmo de última hora, porque entende que isso vicia a organização no caos. A Harvard Business Review descreve esse fenômeno com precisão ao mostrar como a cultura permanente de “apagar incêndio” consome recursos, drena energia e derruba a performance quando se torna o modo padrão de operação.
O que quebra quando a empresa cresce sem método
Quando o crescimento acontece sem estrutura, raramente o primeiro ponto de ruptura é financeiro. O que quebra antes é o dono. Ele passa a ser o sistema operacional da empresa: tudo depende dele, tudo passa por ele, tudo parece urgente. A sobrecarga se torna permanente, e a sensação de controle diminui justamente quando o negócio cresce.
Esse desequilíbrio logo atinge a equipe. O ambiente fica mais tenso, a rotatividade aumenta, erros se repetem e a confiança interna começa a se desgastar. Estudos da Gallup mostram que o esgotamento aparece cedo nesses contextos, com uma parcela expressiva de profissionais relatando sensação frequente de burnout. O problema não é falta de esforço, mas excesso de improviso.
Como sair do improviso sem burocratizar a empresa
Planejar não exige ferramentas complexas nem processos engessados. Exige rituais simples e consistentes. Empresas que conseguem sair do modo reativo costumam criar pequenos momentos fixos para alinhar prioridades, olhar números essenciais e tomar decisões com critérios claros. Não se trata de reuniões longas ou apresentações sofisticadas, mas de disciplina mínima para pensar antes de agir.
Outro ponto decisivo está no tratamento dos erros. Quando um incêndio acontece, líderes estratégicos não seguem adiante como se nada tivesse ocorrido. Eles param por alguns minutos para entender a causa raiz e criar uma ação preventiva. Sem isso, o problema volta — e volta mais caro. É exatamente essa lógica que a HBR critica ao analisar organizações que normalizam o improviso como se fosse eficiência.
O padrão que já estão construindo no planejamento estratégico de 2026
Empresas que chegam mais preparadas ao futuro não têm mais tempo disponível do que as outras. Elas têm cadência. Existe clareza sobre quem decide o quê, com base em quais dados e em qual frequência. Esse mínimo de modelo operacional reduz ruído, acelera execução e libera energia para o que realmente importa.
Pesquisas da McKinsey associam esse tipo de organização a ganhos relevantes de eficiência e velocidade decisória. Enquanto isso, empresas presas ao improviso até trabalham mais horas, mas direcionam esse esforço para sustentar o caos, não para gerar vantagem competitiva.
O risco de deixar 2026 para depois
O maior perigo não é perder uma oportunidade isolada. É transformar o improviso em estrutura. Quando 2026 chegar, quem adiou o planejamento não estará apenas atrasado, mas operando no limite, com decisões mais caras, prazos mais curtos e margem de erro cada vez menor.
Nesse cenário, o que antes poderia ser ajustado vira estrutural: caixa pressionado, equipe saturada e liderança exausta. O custo do improviso, que parecia invisível, finalmente aparece — alto demais para ser ignorado.
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