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Aos 76 anos, ela fundou uma startup de suplementos a partir de uma planta tradicional da Amazônia

A Amazon Bioprotein está iniciando suas operações e quer transformar o cariru em complemento alimentar proteico
Por Rebecca Silva, de Macapá*

“Você sabe o que é uma startup?” Esta foi a pergunta que deu o start para Antônia Bezerra, 76 anos, criar a Amazon Bioprotein, startup que pretende transformar o cariru, hortaliça tradicional da Amazônia muito utilizada na gastronomia, em suplemento proteico natural. A empresa está na fase inicial, de ideação, e pretende lançar o produto até novembro.

A fundadora ouvia muito a palavra dentro de casa: o filho, Yuri, é fundador da startup YBYRÁ Biodesign da Amazônia, e a filha, Erika – sócia na Amazon Bioprotein – é CEO da Associação Amapaense de Tecnologia (AMAPATEC) e atuante no ecossistema de inovação do Amapá.

A culinária está presente na vida de Bezerra desde 1982, quando ela abriu a casa de chá Só Delícia em Belém (PA). Atualmente estudante do último semestre de Nutrição, ela ouviu a pergunta de um professor do curso, que a orientou a participar do evento StartupON, promovido pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups).

Ao participar da conferência, ela se encantou com o universo de inovação e decidiu abrir a própria startup. “Eu não sabia nada, nem por onde começar. Eu só sabia que queria uma startup, mas não sabia nem o que ia ser”, relembra. Foi a neta, estudante de biomedicina, que deu a ideia de criar um produto para suprir uma necessidade de suplementos proteicos naturais. Bezerra se alimentou do cariru toda a vida, uma folha considerada Panc — plantas alimentícias não tradicionais, que se desenvolvem de forma espontânea.

“Tem muito suplemento por aí de soja, que agride a natureza, que tem agrotóxico. O cariru não precisa de tratamento de solo, ele dá o ano inteiro. O cariru captura o gás carbônico com grande vantagem melhora a proteína dele. Se ele ficar sem água, também”, conta. A fundadora diz que 100 gramas de folhas de ora-pro-nobis têm 3,9 gramas de proteína, enquanto a mesma quantidade de cariru têm 5,8 gramas.

A empreendedora está estruturando a startup com a ajuda da filha e de outros fundadores de startup da cidade. A Amazon Bioprotein também garantiu um investimento mensal de R$ 6.500 do Sebrae local para o desenvolvimento do negócio.

No momento, a startup produz a farinha do cariru, porque os laboratórios do Amapá não têm a tecnologia necessária para chegar ao produto final. Segundo Bezerra, ela já está conversando com laboratórios de Belém e de São Paulo para que a farinha seja transformada em suplemento.

“Sou eu que estou procurando agricultores para ser fornecedores, queremos fomentar a agricultura familiar. Se for pra bater perna, pra dar a cara a tapa, sou eu. Sou eu que faço os pitches, faço tudo”, conta.

Com a ideia de vender o produto para um público amplo, formado por veganos, pessoas com dificuldade para absorver proteína animal e pacientes pós-cirurgia bariátrica, a startup já traçou um plano mais amplo: firmar uma parceria com uma grande empresa para desenvolver inovação no futuro. “Eu quero me despedir do mundo empresarial em grande estilo, com essa startup”, finaliza.

A Amazon Bioprotein é uma das startups expositoras do Startup20, encontro realizado neste fim de semana em Macapá (AP).

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