Tantas histórias poderiam preencher páginas desde quando você, papai, colocava meus discos de vinil para tocar na sala de casa, na Vila Tropical, em Tucuruí, no sudoeste do Pará, nos anos 80: Balão Mágico, Trem da Alegria, Xuxa, Bozo, Angélica, Mara Maravilha, Patrícia Marques e tantos outros. Mas também havia as músicas que embalavam nossas viagens: Roberto Carlos, sempre presente na trilha sonora das estradas que o senhor adorava percorrer, além de Bee Gees, Creedence e o bom e velho brega, que também fazia parte da sua playlist.
Sempre gostou de música, de gente, de abrir as portas de casa, reunir amigos, ouvir suas canções, preparar churrasco, sua especialidade, e ajudar quem precisasse. Viveu como quis.
Vai fazer falta, mas cumpriu sua missão. Deixou os filhos encaminhados para cuidar da mamãe, sua companheira de mais de 50 anos, com quem construiu e defendeu nossa família.
Foi em uma de suas ideias inesperadas que começou minha história no jornalismo. Me levou para Redenção, no sul do Pará, para trabalhar na Record local. Ele escrevia os textos, eu decorava e apresentava (não tinha teleprompter). Nas matérias de rua, ele me passava a pauta e eu me virava com o cinegrafista. Se não saísse como ele queria levava uma “escrotiada” Rs. Era um profissional enjoado. Rs. Mas que exercia com amor e muita dedicação. Ele sempre falava: “Primeiro lugar que deves passar todos os dias é na delegacia e falar diretamente com o delegado”. Na época, 2007 ou 2008, o superintendente regional era o delegado Duarte. Eu já estava tão familiarizada com a Polícia Civil que, quando havia ocorrência, me ligavam: “Andréa, corre pra cá, prendemos o fulano”. E lá ia eu com o cinegrafista Maia. Assim era também com a Polícia Federal. Eram as pautas de que eu mais gostava. Depois de 8 meses por Redenção, voltei pra Belém e fiz a faculdade de jornalismo. Mas que não segui a área de telejornalismo. Rs.
Sua trajetória no jornalismo policial rendeu a rara carteira da Polícia Civil, emitida pela Segurança Pública. Atuou no rádio, no impresso, na TV, na assessoria de imprensa, presidiu a Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Pará e assinou coberturas marcantes, incluindo campanhas eleitorais.
Por onde passava, cultivava amizades. Era humilde, apreciador das coisas simples, o melhor churrasqueiro, um avô querido de oito netos, pai de quatro filhos, irmão, tio e amigo dos nossos amigos.
Partiu orgulhoso da minha trajetória, que acabei seguindo o caminho das assessorias, hoje, no Governo Federal. Se despediu de cada filho antes da sua partida. E quando nos despedimos pela última vez, aqui em Brasília, eu disse: “Assim que chegar em Belém vai logo no médico e cuidar da sua saúde”, ele respondeu: “Agora eu vou cuidar e que sirva de exemplo para vocês (os filhos)”. Parece que já sabia. Deus organizou tudo.
E hoje de forma mais simbólica e abençoada, é o aniversário da minha mãe, Lena.
Papai, aposentado, faleceu na última quinta-feira (7) por complicações da doença diabetes.
Feliz Dia dos Pais, Ubiratan. Te amaremos eternamente.
Com amor,
Andréa Ferreira – sua filha jornalista.