Espaço de inovações baseadas na floresta abriga pesquisas e negócios que geram empresas e produtos a partir de recursos naturais como cacau e miriti
Localizado em uma área de 72 hectares cedida pelo governo do estado para a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), o Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá, em Belém, desenvolve pesquisas sobre o potencial econômico da floresta a partir, principalmente, de insumos da região.
Os dois prédios do centro inaugurado em 2010, o Inovação e o Empreendedor, reúnem 11 laboratórios e 32 empresas, como as startups MedBolso (serviços médicos), Ecoset (engenharia e meio ambiente) e BioTec-Amazônia (de biodiversidade).
— É um ambiente em que conseguimos converter ciência em produtos que podem chegar à sociedade gerando transformação — diz Walter dos Santos, CEO da edutech Inteceleri, uma das primeiras empresas de base tecnológica a se instalar ali.
A ideia do parque nasceu de um grupo de professores da UFPA que buscavam um caminho mais produtivo e engajado para negócios que poderiam surgir a partir das pesquisas que faziam. Desde então, o Guamá virou um celeiro de empreendimentos inovadores conectados com as riquezas da Amazônia.
— Do ponto de vista das empresas, somos receptivos a qualquer ramo de atuação desde que já estejam no mercado, sejam inovadoras e se conectem ao ecossistema criado aqui — diz Rodrigo Quites, diretor-presidente da Fundação Guamá.
A Inteceleri, uma das primeiras edutechs (como são chamadas as startups focadas em educação) na Região Norte a serem certificadas com o selo Google Partner for Education, tem projetos para aplicativos de celulares, computadores e dispositivos de realidade virtual ou aumentada.
Da fibra ao metaverso
Os óculos MiritiBoard VR, feitos por mulheres a partir de uma espécie de marchetaria com a fibra do miritizeiro (daí o nome), uma palmeira amazônica, encaixam-se nos smartphones para gerar fotos ou vídeos 360 graus.
A startup recebeu aportes de apoiadores como Sitawi, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e está com uma rodada de captação de investimentos aberta.
— Criamos uma atividade econômica dentro da floresta a partir de uma produção 100% sustentável, que valoriza a mão de obra local. É muito gratificante quando isso chega à escola pública para que façam imersão e aprendam geometria dentro do metaverso — diz Santos, referindo-se ao ambiente virtual que usa dispositivos e tecnologias como a realidade aumentada para unir os mundos real e digital.
O parque traz agilidade e menos burocracias para residentes e associados, conectando empreendedores e valorizando inovações a partir do que se produz localmente.
É o caso do Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA), que estuda insumos amazônicos como óleos e manteigas vegetais. O laboratório também tem contratos de capacitação e melhoria do produto com extrativistas fornecedores de matéria-prima para multinacionais como L’Oréal e L’Occitane.
— Aqui, conseguimos maior contato com empresas, produtores, cooperativas e até gigantes como Agropalma e Natura — afirma Luís Adriano, professor e pesquisador do LOA.
Em outra linha de pesquisa, o Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA) estuda como manter os compostos bioativos do cacau que se degradam na fabricação do chocolate e valorizar a atividade local de cultivo do fruto.
— Achamos importante contextualizar para que essa cultura da qualidade do chocolate também seja apropriada pelos povos locais — diz Jesus Souza, professor do centro, explicando que a ideia é fazer com o cacau algo similar ao feito com o açaí, uma das primeiras matérias-primas estudadas no CVACBA.
— Estudos demonstraram que o perfil de gorduras boas, fibras, compostos fenólicos e proteínas (do açaí), além de minerais e vitaminas, correspondia a uma dieta do Mediterrâneo, ótima para a saúde. Em alguns anos, o açaí virou uma superfruta exportada.
Ele continua:
Expansão no horizonte
O Guamá surgiu com recursos do governo do Pará, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Finep. Com a realização da COP30, em Belém, em 2025, o parque deverá receber R$ 11 milhões do governo federal para novos investimentos, como a construção de um novo prédio, o Sustentabilidade, e um auditório para eventos.
— A intenção é, já neste ano, termos reuniões com parques tecnológicos de outros países da Pan-Amazônia, como Colômbia, Equador e Peru — explica Quites.