Empreendedor afroindígena aposta em massas de tapioca saborizadas e fatura R$ 18 mil por mês

Fundada por Bê Paiva, a TupiOcas Brasil Gourmet funciona em um ponto próprio, além de vender por meio do Instagram e em eventos. No Dia dos Povos Indígenas (19/4), o empreendedor realiza o lançamento oficial do e-commerce da marca
Por Carina Brito

A TupiOcas Brasil Gourmet, empresa pioneira na produção de massas de tapioca saborizadas, carrega muitos valores do fundador Bê Paiva, de 44 anos. O empreendedor nasceu em Recife, no estado de Pernambuco, mas sua família é de Goiana, interior do estado. “É um município com uma cultura afroindígena muito forte”, diz. “E eu empreendo com tapioca, uma iguaria dos povos indígenas, com a contribuição das mulheres negras.”

O negócio vende tapiocas prontas, mas também massas para que os clientes preparem em casa. Entre os sabores oferecidos estão cúrcuma, scpirulina, uva, chia, amendoim e psyllium. A organização fatura cerca de R$ 18 mil por mês com vendas em um ponto próprio, por meio do Instagram e em eventos.

No Dia dos Povos Indígenas (19/4), o empreendedor comemora o lançamento oficial do e-commerce da marca. “Escolhi essa data para deixar claro o nosso propósito e a minha identidade do meu negócio. É uma forma de fortalecer a cultura e o meu empreendedorismo”, afirma Paiva. “Não sei de qual lugar veio minha família por parte da África. Mas a minha família dos povos originários vem dos Caetés e Tabajaras, em Pernambuco.”

A massa de tapioca saborizada surgiu na infância de Paiva, que costumava cuidar de seus irmãos mais novos. “Muitos pais nordestinos ensinam os filhos a cozinhar cuscuz, feijão e tapioca. Não era algo requintado, mas eu sabia fazer”, afirma. Devido a escassez de alimentos em casa, Paiva começou a utilizar sobras de ingredientes para criar receitas. “Quando sobrava cuscuz em uma noite, no dia seguinte eu misturava com a tapioca”, diz.

Hoje empreendedor, Paiva teve diferentes empregos, incluindo entregador de panfletos, vendedor de eletrodomésticos e garçom. Em 2002, mudou-se para a cidade de São Paulo. “Juntei dinheiro para me sustentar por três meses e buscar um emprego. Consegui uma vaga em uma empresa de processamento de dados bancários”, diz Paiva, que chegou a trabalhar em outras organizações.

No entanto, ele carregava uma frustração. “Eu trabalhava muito, mas percebi que como negro, nordestino e homossexual, eu não tinha oportunidade para crescimento dentro das empresas. Mesmo trabalhando mais, eu não conseguia subir de cargo”, diz Paiva, que percebeu que deveria empreender para sair daquela situação.

“Queria encontrar algo que eu pudesse trabalhar por amor, e que eu tivesse liberdade para ser dono do meu negócio”, diz. Foi então que ele se lembrou das tapiocas saborizadas que sempre lhe renderam elogios.

Em 2014, iniciou as vendas em uma barraca de madeira na região da rua 25 de março, no centro de São Paulo. Em apenas um mês, comprou um kit para instalar em seu carro e preparar as tapiocas no local. Seis meses depois, comprou um trailer para realizar as vendas. “Minha estratégia foi vender meus produtos em muitos eventos, inclusive de grandes empresas. Era um sucesso”, afirma Paiva.

Em 2016, após pedidos dos consumidores, o empreendedor passou a vender as massas de tapioca em embalagens para preparo em domicílio. No ano seguinte, criou um ponto fixo dentro de uma das empresas em que trabalhou — que está aberto até hoje. Na pandemia, encerrou a operação do trailer.

Agora, a aposta do empreendedor está no e-commerce — a expectativa neste ano é aumentar a receita em 70%, esperando que 33% do total sejam oriundos de vendas digitais. Paiva diz que 10% do lucro das vendas no site serão revertidos para as comunidades indígenas de Pernambuco e São Paulo

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